terça-feira, 1 de maio de 2012

Miguel Portas (1958-2012)



Fotografia de Paulete Matos
 Como se sabe, Miguel Portas morreu no dia 24 de Abril. Faria anos, hoje.
Há dois anos detectaram-lhe um cancro. Foi operado em Maio de 2010, sendo removido um terço do pulmão direito. Por causa da doença, e por influência do livro "Anticancer: A New Way of Life" do neurocientista e psiquiatra francês David Servan-Schreiber, o Miguel mudou o estilo de vida e o esquema de alimentação. Passou a comer predominantemente produtos biológicos, sem químicos.
O que poderei eu dizer do Miguel? Duas ou três curiosidades, talvez.
Antes de ele ir para o Parlamento Europeu, lembro-me de o encontrar algumas vezes nas salas de Cinema que frequentava. Lembro-me de ele se rir com uma t'shirt que eu vestia, com uma tira da Mafaldinha do Quino. É conhecida a enooorme paixão que ele tinha por Banda Desenhada. Quem me dera ter metade da tua colecção, Miguel. Antes disso, lembro-me do semanário Já. Um Jornal com um grafismo e um conteúdo inovadores. Um Jornal assumidamente de Esquerda, para toda a gente. Lembro-me de o ir buscar à borla ao ISCTE, onde estudava um dos meus melhores amigos. O Jornal estava ali disponível para quem o quisesse levar para casa, gratuitamente. Até havia edições mais antigas. Esse meu amigo que era laranjinha (politicamente falando), também lia aquela novidade editorial na imprensa portuguesa.

"Terra e Liberdade" - Ken Loach (1995)

 Por causa deste jornal, também me lembrei de um texto que o Miguel escreveu sobre o filme "Terra e Liberdade" (1995), na altura em que a obra de Ken Loach estreou por cá. Andei à procura desse texto cá por casa e não o encontrei... mas sei que o Miguel até nem simpatizou assim tanto com o filme como eu. Bem pelo contrário. Esse texto do Miguel dava uma visão da Guerra Civil de Espanha (1936-1939) que se aproximava mais das suas raízes doutrinárias do PCP (se a memória não me atraiçoa, visto que não pude confirmar tal facto). Pois bem, eu amo o "Terra e Liberdade", e o filme dá uma visão deste período da História, com a qual eu me identifico. Nessa altura, a estreia do filme suscitou vários textos e debates muito interessantes. Fui, por exemplo, a um debate organizado por anarquistas na sala do Teatro O Bando, com militantes bastante antigos e outros bastante novos, para discutirmos livremente sobre a Guerra Civil de Espanha e o filme de Ken Loach. É um filme marcante para mim! Trata de um período histórico que eu acho fascinante, e esta obra motivou que eu começasse a ir ao Cinema mais regularmente. Há um Hugo antes e um Hugo depois de "Terra e Liberdade". E já havia lido algumas obras marcantes sobre esse período ou as publicações de imprensa que surgiam a abordar o tema. Depois tive como Professor, um Historiador que também era fascinado pela última Guerra Romântica, como ele dizia... O saudoso César Oliveira.
Voltando ao Miguel, não deixa de ser muito curioso que o Comité de Solidariedade com a Palestina, se refira ao desaparecimento do Miguel citando este filme... Num texto intitulado "Até sempre, Miguel Portas", eles dizem o seguinte:

"No filme clássico de Ken Loach sobre a guerra civil de Espanha, um antigo combatente da milícia do POUM é sepultado pela sua neta, muitos anos depois da derrota, com um punhado de terra - terra colectivizada, que tinha guardado durante toda a vida, para recordar as esperanças luminosas da revolução nos seus primeiros tempos.
Nós, do Comité de Solidariedade com a Palestina, gostaríamos de ter trazido para a despedida de Miguel Portas um punhado da terra libertada da Palestina. Sabemos que poucas pessoas se têm empenhado tanto como Miguel Portas na causa dos direitos humanos, sociais e nacionais do povo palestiniano. Não foi por acaso que muitos dos parlamentares doutros países europeus, ao evocarem MP, colocavam a causa palestiniana à cabeça dos grandes combates em que ele se empenhou.
Não pudemos trazer um punhado de terra palestiniana libertada, porque isso nunca existiu. Mas, ao contrário de um combatente de Espanha, que apenas podia guardar a recordação dum momento longínquo de esperança, o punhado de terra pelo qual lutou MP, pelo qual queremos continuar a luta, pertence ao futuro.
Até esse futuro, até sempre, companheiro Miguel Portas!"

Refiro também a revista "Vida Mundial" com a qual também aprendi, e que também me habituei a ler.

O vídeo é dos Beirut, porque é um dos poucos grupos novos de que ele gostava. E ainda por cima, é uma banda norte-americana com nome de cidade que ele adorava e que visitava regularmente. Grupo de rua, como ele lhe chamava, que o Miguel ouvia no carro e em casa.
As pessoas que aparecem no vídeo não são os Beirut, mas a música linda é deles.
Tema que faz parte do álbum "The Flying Club Cup" de 2007 (o tal ano louco...).

Beirut - "The Flying Club Cup" (2007)
 E para terminar, nada melhor que recordar o admirável sorriso do Miguel!

Foto de Paulo Petronilho
Abraço, Miguel.

4 comentários:

  1. Pois... nunca fica tudo dito.

    http://aventar.eu/2012/04/27/nunca-fica-tudo-dito/#more-1146489

    Um sorriso :)

    ResponderEliminar
  2. RIP Miguel. um grande homem.

    vamos sentir a sua falta

    ResponderEliminar
  3. Amigo Hugo, tiveste pois a sorte de conhecer o Miguel Portas pessoalmente, ele devia ser uma pessoa fascinante.
    Tinha uma admiração especial por ele pois era diferente de qualquer outro político.
    A tua homenagem é comovente e nela aprendi algo mais sobre este verdadeiro Homem.

    um beijinho comovido

    ResponderEliminar
  4. Uma homenagem muito bonita. E a música dos Beirut é lindíssima.

    ResponderEliminar