Se repararem, vêem, no segundo 0:22, uma foto colada no vidro da cabine de som. Trata-se de Jan Palach, símbolo da resistência à invasão soviética da Checoslováquia em 1968. Isto remete-nos para a Primavera de Praga e para um dirigente comunista que se insurgiu contra o estalinismo e a liquidação de um sonho socialista.
Jan Palach era um estudante checo que se imolou pelo fogo a 16 de Janeiro de 1969, como protesto contra a barbárie imposta. Alexander Dubcek era o dirigente do PC checo que, em 1968, tomou aquela posição de Liberdade prontamente abafada.
Convém talvez dizer que eu tenho consciência política desde os meus 14 anos... O Muro de Berlim tinha caído há pouco tempo, mesmo assim, sempre fui de Esquerda, desde a altura em que tive consciência para tal. Também é verdade que sempre me senti próximo de uma Esquerda contra qualquer estalinismo e outros ismos assustadores. Fui formando a minha consciência política, lendo todas as Esquerdas sem excepção, mas sobretudo pensando pela minha própria cabeça.
Em relação à Primavera de Praga habituei-me a ouvir, ao longo de todos estes anos, uma razão pela qual muita gente se afastou do PC português. É que este caso incorpora o que de pior se sucedeu numa violência ideológica em tempos mais próximos. Não anotei todos esses casos de dissidência militante, mas muitos estão bem presentes na minha memória. Por isso, refiro apenas três exemplos de uma Esquerda que se afastou do PC português, também (e sobretudo), por este caso tão sensível. Recentemente pude ouvir o reforçar desta ideia através de Fernando Rosas e Ana Gomes, numa entrevista conduzida por Aurélio Gomes no Canal Q. Mas também assisti ao fantástico filme de Margarida Gil sobre Isabel do Carmo, numa série chamada "Conversas de Cabeleireiro" que passou na RTP2, onde a endocrinologista nos explica a importância daquela posição de Liberdade do PC checo, como algo de genuíno e não se tratando de uma manobra ou conspiração da CIA. Foi lamentável para ela e para muitos, o abafar e o derrotar daquele impulso libertador.
Estão a perceber agora o porquê da não publicação de alguns dos meus vídeos preferidos? É que nesses casos eu tenho sempre muito a dizer... E nem sempre consigo exprimir o mínimo aceitável.
Sobre tudo o que escrevi neste post lembrei-me de uma frase fantástica do Mário Dionísio, citada por outra pessoa muito interessante e que, curiosamente, também se afastou do PC português (Alice Vieira). A frase é a seguinte: "Os erros dos meus amigos nunca me hão-de fazer passar para o lado dos meus inimigos". É isso, para bom entendedor meia palavra basta!
O tema faz parte do álbum dos Kasabian de 2004. O vídeo foi realizado por W.I.Z.!
Kasabian - "Kasabian" (2004) |
Fotografia de Hugo Nofx, stencil de alguém... |
Querido Hugo.
ResponderEliminarImpressionante o vídeo e admirável o texto em que pões a nú os teus ideais sem te preocupares com o que outros possam pensar.
Por isso, te admiro tanto, Hugo! O teu sentido de justiça social não muda e tens todo o direito a manifestar o que sentes e pensas.
Concordo e partilho inteiramente dessa frase fantástica. Nunca deixes de publicar os vídeos e os textos sobre o que pensas e se enquadrem nos mesmos. É para isso que serve um blog! Exterioriza os teus sentimentos, de acordo com a tua consciência política, sempre!
Nos finais dos anos sessenta, muitos foram os jovens que encontraram na imolação pelo fogo uma forma de manifestarem a sua revolta contra uma enganadora ditadura de esquerda.
Será que alguma vez o desejo de uma sociedade mais justa e equitativa se concretizará? A luta pelo poder é inebriante e nem tudo o que ouvimos dizer em nome da Liberdade e da Justiça, corresponde à verdade, mas sim para servir interessas obscuros....Infelizmente!
Beijinhos, Hugo, gostei, como gosto sempre de tudo o que escreves, já me identifico em muito contigo.
Mais um beijo! :)
"Será que alguma vez o desejo de uma sociedade mais justa e equitativa se concretizará? A luta pelo poder é inebriante (...)". Lapidar, minha cara! Não diria melhor.
Eliminarbeijo.
Hugo, tens muito para dizer e ainda bem, tens um mundo de conhecimentos que deves partilhar e ainda mais admiro a tua capacidade de síntese e facilidade em passar a mensagem com emoção q.b.
ResponderEliminarbeijos!!!
Andy, todos temos um mundo de conhecimentos a partilhar.
ResponderEliminarEm relação à síntese, lembro-me inevitavelmente do Professor César Oliveira, esse mesmo, o Historiador, que me perguntou num trabalho sobre o Anarquismo, o porquê de eu bicar um pouco ali e outro acolá sem aprofundar esses mesmos bicanços... Eu respondi-lhe que assim fazia o trabalho porque era mais fácil para mim, ele não ficou muito convencido com a resposta, apesar de achar curioso o poder de síntese que consegui transmitir. O saudoso Professor César deu-me a melhor nota da turma nesse ano. E eu que já tinha vários dos seus livros arranjados em alfarrabistas aqui de Lisboa, senti uma imensa honra com esse facto académico.
beijo!
Hugo:
ResponderEliminarAlém de admirar os teus conhecimentos sobre música, também admiro a tua cultura política e não só.
Acho que a deves partilhar, ficamos todos mais "ricos".
beijinho
Fê
Fê, todos partilhamos uns com os outros aquilo de que gostamos e aquilo que não nos agrada... É essa a piada da blogosfera.
ResponderEliminarbeijo.