Morreu ontem o Realizador de Cinema Paulo Rocha. Há muitos anos, quando eu era viciado em Cinema e tinha na minha querida Cinemateca o principal refúgio, chegava a casa, colava o bilhete da sessão numa folha branca e escrevia sobre o filme visto para não me esquecer da magia presenciada umas horas antes. Por vezes, não o fazia no próprio dia, mas foi um ritual que se manteve, quase diariamente, para bem da minha sanidade mental. Eu acho que não me matei nessa altura por causa disso. A sério, não estou a exagerar. O Cinema (e a Cinemateca em particular) salvou-me a vida. Foi uma Luz que me fascinou tanto, que me salvou. Por causa do ritual citado, posso-vos dizer que vi "Os Verdes Anos", na Cinemateca (pois claro), a 16-11-2002. Está lá a data no bilhete que ainda se parecia com aqueles bilhetes de comboio antigos. (lembram-se?). A "Ilha dos Amores" foi visto a 7-2-2003, o "Mudar de Vida" a 6-2-2004, já com bilhetes informatizados numa Cinemateca depois das obras ainda mais bonita. "A Raiz do Coração" (21-1-2001) e "O Rio do Ouro" (5-3-1999) foram vistos no King do abençoado Paulo Branco. Aproveitei para ler os meus textos da altura, escritos nestas folhas brancas dos bilhetes colados, mas vou guardá-los para mim. De seguida guardarei as folhas no respectivo dossiê de memórias cinéfilas. Mas vou transcrever um excerto da entrevista que Paulo Rocha deu ao Jornal Público (19-2-1999) aquando da estreia comercial de "O Rio do Ouro", e que eu transcrevi na altura para as minhas folhas brancas. Ele diz o seguinte: "Depois de se viverem as paixões até aos extremos, depois de se definirem e experimentarem esses extremos, podemos ser livres entre eles. O mal é que as pessoas não querem encarar que a vida não é só a máxima felicidade ou a máxima tristeza, mas que se transita constantemente entre uma coisa e outra. Há momentos de voar e momentos de ir ao fundo. Se não tivermos medo de circular entre os extremos, coisas dessas podem acontecer a toda a gente. Não há que ter medo do que está à esquina, seja o máximo horror ou o máximo amor".
"Os Verdes Anos" de Paulo Rocha (1963) |
"Os Verdes Anos" são para mim uma das obras mais bonitas e mais fascinantes de toda a História do Cinema Português. Um anjo disponibilizou esta obra no You Tube, e é esse o vídeo que publico. Eu só vi uma vez esse filme inesquecível, mas agora posso revê-lo na net quando quiser, por causa desse anjo que o disponibilizou. Não é o mesmo que o ver projectado numa sala de Cinema às escuras, mas dá para matar saudades! O meu imenso obrigado a esses anjos que ainda andam por aí!
"A Raiz do Coração" de Paulo Rocha (2000) |
"A Raiz do Coração" é o outro filme do Paulo Rocha que eu também Amo muito. É uma obra muito mais recente, mas é uma obra-prima dos últimos anos no Cinema feito por cá! É um filme de uma magia e de uma sabedoria só ao alcance de alguns! É um bombom cinéfilo tão bonito quanto perturbador. Desde que o filme estreou, tenho o postal que reproduz o cartaz do filme, colado num móvel do meu quarto. Talvez por causa disso tenha a tendência em escrever raiz com acento, igual ao que está escrito no dito cartaz...
"Mudar de Vida" de Paulo Rocha (1966) |
"O Rio do Ouro" de Paulo Rocha (1998) |
beijos & abraços cinéfilos!
Parabéns pelo teu amor ao cinema e pelo bom gosto de seguires as obras de Paulo Rocha.
ResponderEliminarPareceu-me engraçado e uma óptima ideia a de resumires o filme segundo as tuas lembranças.
As minhas memórias avivam-se quando revejo alguns filmes vistos em 1970/80. Depois casei e por vários motivos deixei o cinema.
Desejo-te um bom ano 2013, com tudo aquilo que mais desejas e bom cinema também...
Muitos beijos e carinhos neste ano que irá se iniciar!
ResponderEliminarAcho que o cinema também me foi salvando...
ResponderEliminarLamento muito a perda de Paulo Rocha, o Sr. Cinema.
Desejo-te um excelente 2013!
Beijo grande.