terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

José Régio (1901-1969)

Caricatura de Hermínio Felizardo

José Régio e o seu burro

LIBERTAÇÃO

Menino doido, olhei em roda, e vi-me
Fechado e só na grande sala escura.
(Abrir a porta, além de ser um crime,
Era impossível para a minha altura...)

Como passar o tempo?... E diverti-me
Desta maneira trágica e segura:
Pegando em mim, rasguei-me, abri, parti-me,
Desfiz trapos, arames, serradura...

Ah, meu menino histérico e precoce!
Tu, sim!, que tens mãos trágicas de posse,
E tens a inquietação da Descoberta!

O menino, por fim, tombou cansado;
O seu boneco aí jaz esfarelado...
E eu acho, nem sei como, a porta aberta!

(in "Poemas de Deus e do Diabo")

1 comentário:

  1. Meu amigo:
    Parabéns pela escolha deste belíssimo poema de José Régio.
    Cântigo Negro é aliás o meu poema preferido de sempre.

    Beijinhos

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