domingo, 17 de fevereiro de 2013

Tintim - "A Estrela Misteriosa"



Resquícios da coincidência de fenómenos raros ocorridos na última Sexta-Feira, e um texto de Ferreira Fernandes que me apetece transcrever.
O texto tem o nome sugestivo: Os céus são bazófias comparados connosco.

Como no álbum A Estrela Misteriosa, de Tintim, ontem um asteróide passou-nos uma tangente e um meteoro caiu algures na Terra. Sem ousar abusar da imaginação, Hergé juntou ambos: o meteoro era um fragmento do asteróide que prosseguira viagem (no fundo, foi um único fenómeno). Mas, no acontecido ontem, a realidade pôde permitir-se uma extraordinária coincidência: de manhã, uma chuva de meteoritos espalhou-se pelos Urais e, à noite, sem ter nada a ver com o fenómeno matinal, o asteróide 2012 DA14 cruzou-se connosco. Foi como se duas estrelas de Hollywood, Clooney e Travolta, sem combinarem, se encontrassem por mero acaso num café em Mogadouro. O asteróide de ontem foi o que mais se aproximou da Terra sem com ela chocar. E a chuva de meteoritos foi a que mais feridos causou, mil. Antes dela, só consta um cão morto por um meteorito em 1911, no Egipto, e um miúdo ugandês ferido, em 1992. Os céus, apesar de ameaçadores, não passam disso. Já os fenómenos cá de baixo têm sido mais eficazes. O álbum A Estrela Misteriosa foi publicado em 1942, na Bélgica, e um seu quadradinho mostra um velho desesperado a bater num gongue: "Vem aí o fim do mundo! Arrependei-vos!" No quadradinho seguinte, o judeu Isaac diz ao judeu Salomão, esfregando as mãos: "Que bom negócio, assim não vou ter de pagar aos fornecedores..." Nesse 1942, em Auschwitz, os chuveiros de gás Zyklon B matavam mais do que até hoje as chuvas de meteoritos. 
Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 16-02-2013

Publico a animação baseada no livro, e a capa do dito.

"A Estrela Misteriosa" - Hergé (1942)

3 comentários:

  1. Não gosto do tintim… por razões óbvias!

    Bjis :)

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  2. gostei muito do texto, dá muito que pensar e dou-lhe a razão...
    obrigada pela partilha.

    beijinho, Hugo!

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  3. Muito oportuno, Hugo! Beijos da Anamaria jardineira, cansada!

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