Ainda esticando a lógica literária que me levou a publicar excertos de Luis Sepúlveda e Gabriel García Márquez, refiro que, por cá, há uma escritora que eu encaixo na mesma família estilística. Se não me falha a memória, dela apenas li o fantástico "Insânia" de 1996. Falo, evidentemente, de Hélia Correia. Lembro-me de a ver, por vezes, nas salas de Teatro onde eu também ia, quando ainda assistia a essa Arte sublime. Que saudades tenho eu de ir ao Teatro, meu Deus! É melhor não pensar nisso, agora...
Este tema dos Dead Pirates pertence ao EP "Malevolent Melody" de 2010.
O vídeo é autoria de Mcbess & Simon.
The Dead Pirates - "Malevolent Melody" (EP) (2010) |
"Jamais se abriu Talívio sobre o assunto. Pusera o seu empenho nas palavras e, atraiçoado, foi para as mãos que se virou. Achou refúgio num lagar que transformou numa oficina de carpintaria. E aplicou-se a lutar com a madeira, que, ao contrário de tudo o resto, era abundante, ainda que lassa e muito esquiva às ferramentas.
Na solidão moía os seus despeitos. Quem espreitasse, veria como a fúria dos pensamentos lhe escorria até aos dedos. Dizia-se que o vento, voltejando nas telhas descobertas, levantava o poder dos espíritos do vinho que, muitos anos antes, outro vento impregnara na própria construção. O carpinteiro não gostava de álcool, mas a intoxicação por ideais parecia semelhante à da bebida. Também ele começara por falar alto em público para depois, humilhado, se esconder."
Hélia Correia, "Insânia", 1996
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