sexta-feira, 2 de maio de 2014

Vasco Graça Moura, Bob Hoskins e um 1º de Maio a que não fui... Porra!

VASCO GRAÇA MOURA (1942-2014)

Vasco Graça Moura fotografado por Luís Ramos

Morreu no dia 27 de Abril. Dia 23 li a sua última crónica no Diário de Notícias, quando fiz a pausa necessária e a que tenho direito, na fábrica onde trabalho. Sendo um leitor assíduo de VGM, nem sempre lia as suas crónicas. Sou, sobretudo, enorme admirador da sua Poesia! Sim, sou um operário que lê poesia. E, neste caso, trata-se do melhor que se faz por cá... e no mundo. Nunca me esquecerei da admiração de uma Amiga, ao entrar no meu quarto e ver livros de poesia de VGM na prateleira de baixo (para que fiquem mais acessíveis...) - "Vasco Graça Moura, Hugo? Nunca imaginei!" Pois é, apesar de VGM ser um convicto laranjinha, cor partidária que mais detesto e me recuso a vestir no dia a dia, foi um autor que deixou um rasto de qualidade, como escritor e tradutor! Até a escolha da foto que publico não é um acaso. Luís Ramos captou a essência da paixão de VGM pelos Livros e pela Literatura. Só isso possibilitou a tradução de Dante, Petrarca, Rilke, Walter Benjamin, Shakespeare, Lorca, Molière, Voltaire, entre outros, não tão importantes para mim quanto estes... Como escritor, para além da Poesia que admiro há imensos anos, tenho lido aos poucos o seu último texto, "A Identidade Cultural Europeia", editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em Novembro de 2013. É absolutamente desconcertante a lucidez que ele manteve até ao fim. As divergências políticas, mais do que óbvias, nunca me impediram de o admirar. Apesar de me irritar (IMENSO!) com o seu laranjismo...
Como disse Miguel Esteves Cardoso: "Todos os trabalhos dele beneficiam quem sobreviveu."
Deixo-vos com um poema editado em 1997, ano de enormes descobertas para mim, e um excerto desse último livro publicado por Vasco Graça Moura em 2013.

no obscuro desejo

no obscuro desejo,
no incerto silêncio,
nos vagares repetidos,
na súbita canção

que nasce como a sombra
do dia agonizante,
quando empalidece
o exterior das coisas,

e quando não se sabe
se por dentro adormecem
ou vacilam. e quando
se prefere não chegar

a sabê-lo, a não ser,
pressentindo-as, ainda
um momento, na aresta
indizível do lusco-fusco.
Vasco Graça Moura, "Poemas com Pessoas" (1997)

   "É verdade que a cultura europeia foi a primeira a pensar-se em termos de uma solidariedade transmissível e praticável a partir da dignidade e da liberdade humanas tanto quanto de uma série de valores da mais variada ordem partilhados por todos. Mas a experiência tem mostrado que, na prática, as coisas não são bem como se esperava e que esse ideal de uma Europa harmoniosamente construída e convergente, quer no desenvolvimento económico sustentado, quer na qualidade de vida dos seus cidadãos, está a sair tão caro quanto frustrado."
Vasco Graça Moura, "A Identidade Cultural Europeia" (2013)

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BOB HOSKINS (1942-2014)

Bob Hoskins fotografado por Sarah Lee (jornal The Guardian)

Morreu no dia 29 de Abril. Era um actor fantástico. Curiosamente não vi referido o meu filme preferido onde ele participa, em nenhum lado que mencione o seu desaparecimento! Cá está o Hugo Nofx para vos lembrar "Inserts", uma obra-prima de 1975, realizada por John Byrum. Um dos filmes mais sublimes e desconcertantes sobre a decadência humana e todas as suas implicações! Os planos são longos e fabulosos, os diálogos são espantosos e as interpretações são soberbas. Por favor, não morram sem ver este monumento em forma de Cinema!

"Inserts", realizado por John Byrum (1975)

Filme fabuloso & escandaloso, com apenas cinco actores! Aqueles que aparecem no cartaz que publico.

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1º de MAIO de 2014



Pela primeira vez em muitos anos, não fui! Não me sinto bem fisicamente! Tenho dificuldade em respirar há alguns dias! Sinto um desconforto que espero que passe, antes de consultar um médico. O descanso tem sido afectado por este facto. Vamos lá ver o que isto vai dar. Não há-de ser nada!
A LUTA CONTINUA!

2 comentários:

  1. Hugo! adorei a abordagem a Vasco Graça Moura, e queria levar o poema se não te importares.
    Nasci no 1º de maio de 74...
    E os pulmões? que se passa? ...

    Beijinho grande!

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    1. Claro que podes levar o poema, Andy. Eu adorei vê-lo no teu blog! Sabe tão bem esta partilha conseguida!

      Nasceste numa data incrível!

      Parece que a minha asma me quis pregar partidas, acho que foi isso... Agora já estou melhor.

      Beijo!

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