"(...). A diferença é que nas pessoas livres as paixões são prolongamentos do desejo que nos faz gostar de nós aos olhos de alguém (...)."
Victor Cunha Rego, "Os Dias de Amanhã"
Bom Ano 2014!
beijos & abraços!
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
...
"Voltar assim sem bagagem, sem nada trazer dos meus pertences, já estava à espera de ser recebido com o rolo da massa... Nada disso!... Pareciam todos contentes, os meus velhos, todos felizes que eles pareciam, de me ver chegar... Só ficaram surpreendidos por eu não trazer uma única camisa, um único peúgo, mas não insistiram... Não fizeram nenhuma cena... Estavam demasiado absortos nas suas próprias preocupações...
Tinham mudado muito, de porte e de aparência, desde que eu partira, há oito meses atrás, achava-os encarquilhados, o rosto engelhado, o andar hesitante..."
Tinham mudado muito, de porte e de aparência, desde que eu partira, há oito meses atrás, achava-os encarquilhados, o rosto engelhado, o andar hesitante..."
Céline, "Morte a Crédito" (1936)
Os velhos encarquilhados são vocês, sou eu, somos todos nós, passados oito meses, mesmo sendo jovens.
quinta-feira, 25 de abril de 2013
Stan Getz Quartet - "I'll remember April"
Stan Getz Quartet ao vivo em Estocolmo no ano de 1978.
Viva o 25 de Abril!
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"Falávamos todos porque todos éramos habitantes da cidade, odiávamos a ditadura e tínhamos derrubado o terror de uns sobre os outros e dentro de nós.
Vivia-se ardentemente pela noite fora e os relógios passaram a contar o tempo de outra maneira. O ritmo imposto desfez-se tão depressa que poucos dias depois não se sabia já como se vivia antes. Tinha-se o poder de possuir cada palavra e cada gesto. Cada acontecimento não era só conhecido pelos jornais, e pela rádio, porque nós próprios tínhamos estado lá. As dimensões da cidade reduziram-se e percorríamos rapidamente as avenidas de extremo a extremo para apoiar os movimentos da História. Tínhamos deixado de viver em casa. Vivíamos na cidade, nas ruas, nas praças."
Eduarda Dionísio, "Retrato dum amigo enquanto falo" (1979)
Amaral - "Revolución"
Serafim Saudade - "Tango para Portugal"
As imagens que vemos neste vídeo pertencem ao programa "Hermanias", transmitido na RTP em 1985. A música que ouvimos é um tango feito por Carlos Paião para a personagem Serafim Saudade que foi criada e interpretada por Herman José. As partenaires (coristas) são Helena Isabel & Natália de Sousa. O sucesso da personagem proporcionou edição discográfica em vinil e cassete (pirata e sem ser pirata!...). Se estiverem atentos à letra verão que o humor, aqui, assumiu um papel de intervenção e crítica social.
Serafim Saudade - "O Verdadeiro Artista" (k7) (1985) |
Viva o 25 de Abril!
quarta-feira, 24 de abril de 2013
Coro da Achada - "Bardamerkel"
O Coro da Achada também marca presença no Arraial dos Cravos, que hoje se realiza no Pavilhão da Lx Factory. Deixo-vos com "Bardamerkel"!
Viva o 25 de Abril!
Pierre Aderne & Jorge Palma - "Eu preciso mentir que te amo"
terça-feira, 23 de abril de 2013
NOFX - "The Quitter"
Este vídeo com alguma Animação e com música dos meus NOFX, é apenas um pretexto para o anúncio da publicação do livro "Enorme, Brutal, Colossal 2012!" de Henrique Monteiro! Eu sempre associei o cartoon ao punk! Talvez por causa da consciência inconsciente das fanzines, que fazem parte da minha vida, mas que pouco relevo demonstram a nível nacional. Talvez eu vá, um pouco além, dessa associação de simpatia militante, para dizer que sempre me fez bem saber do registo cartoongráfico em livro, tal como o registo sonoro do punk, mesmo que obscuro! Os cartoons de Henrique Monteiro nada têm de obscuridade, mas esta publicação facilitará um conhecimento mais abrangente deste talento que se quer partilhado. Esticando ainda o paralelismo, quero dizer que acho muito importante este registo em livro de um dos cartoonistas que eu mais admiro, como acho igualmente importante o registo de grupos punk que conhecemos, e que através de edições discográficas podem ficar mais facilmente na História da música. Estou-me a repetir para frisar. É tudo uma questão de registo!
Tema que faz parte do álbum "Coaster" de 2009.
NOFX - "Coaster" (2009) |
Apresentação do livro do cartoonista Henrique Monteiro! |
blink-182 - "After Midnight"
Quando se deixa de publicar regularmente, aqui no blog, o difícil é voltar a retomar o entusiasmo com tão poucos comentários... Contudo, como me diz uma Amiga, tenho tido o mesmo número de visitantes! Vêm cá mas não se sentem motivados para comentar. No Problem!
Como já devem ter reparado, sou um Ser acentuadamente ridículo! Vejam lá vocês bem, que eu começo a ter dificuldade em utilizar o computador na secretária onde o dito está, porque a dita secretária, apesar de já não ranger, fruto de uma intervenção cirúrgica e competente do meu sobrinho, faz tremer desconfortavelmente o bonito ecrã Led, o que não acontecia com o pesado monitor antigo! Não pensem, por favor, que sou alguém avesso à evolução tecnológica nos nossos lares! Bem pelo contrário, até porque não quero ser confundido com um, mais ou menos, jovem comunista do PCP que depois de um concerto dos Xutos no Estádio do Restelo, me chocou muito mais com a sua verborreia pseudo-ideológica, do que com o casaco de fato de treino da antiga RDA que ele envergava orgulhosamente. Ai, cruz credo, se o encontro na minha querida Festa do Avante, sou bem capaz de me dar mal com tamanha provocação! Eu quero lá saber!... Até porque esta divagação de 2009 não terá muito a ver com a música que publico neste post!... Huuuuuuuuuuuuum, se calhar, bem vistas as coisas até tem a ver, mas reservo essa associação para outro post mais consistente, no que a verborreias diz respeito!
Dirão alguns que sou um Ser contraditório... Menos do que parece, meus caros! Há uma coisa da qual não prescindo, até ao fim dos meus dias... chama-se Liberdade! E essa mesma Liberdade que possuo, sempre me possibilitou a provocação a jovens da JCP que bebiam Coca-Cola e não sabiam o que queria dizer a palavra imperialismo! Bebiam Coca-Cola no seu usufruto de liberdade gostativa, pois então. Outros jovens da JCP, nesta última Festa do Avante, não sabiam que as lindíssimas boinas vendidas na barraca do PC da Alemanha, eram iguais às dos milicianos e dos brigadistas que lutaram na Guerra Civil de Espanha, no lado dos Republicanos! Curiosamente, aquela boina é mais associada aos milicianos, basta olhar para os cartazes das Brigadas Internacionais! Não fiquem a pensar que eu estou a dizer mal do PCP. Estes pormenores dignos de brincadeira podem ser encontrados em todas as forças de Esquerda, noutras nuances, tão ou mais dignas de relevo. Para mim, na essência, é tudo uma questão de memória!
Vi os blink-182, ao vivo no Pavilhão Atlântico, no dia 21 de Julho de 2012. Foi fixe!
Este vídeoclip é claramente inspirado no filme "It´s kind of a funny story" realizado por Anna Boden e Ryan Fleck em 2010.
O tema faz parte do álbum "Neighborhoods" de 2011.
Blink-182 - "Neighborhoods" (2011) |
quinta-feira, 18 de abril de 2013
JamisonParker - "Slow Suicide"
Publicar JamisonParker depois de Zé Mário Branco é capaz de contribuir para a desconfiança em relação à minha sanidade mental. Como o meu blog é um espaço de Liberdade, gosto de brincar, sobretudo, com esses pensamentos que tudo julgam mas nada percebem!
A música é ilustrada com imagens de "Bleach", uma série de animação japonesa.
"Slow Suicide" pertence ao álbum "Sleepwalker" de 2005.
JamisonParker - "Sleepwalker" (2005) |
"Talvez só eles existissem, não eu. Eu era a filha dum acaso, dum ímpeto, dum desencontro de viagem, duma bruteza da juventude, da exuberância do corpo. Não, eu não existiria, só existiriam os meus três irmãos, filhos deles, do juízo deles e do amor deles, e assim, no carro, teria existido mais espaço porque o meu lugar teria sido desocupado por mim, que não existia. Então eu era a responsável por aquela barca preta ter vindo à nossa porta para se afundar. Era culpada, responsável, duma responsabilidade mais funda do que a culpa, porque nascida de um estado criado antes de mim mesma, uma condição herdada que me fizera à imagem e semelhança da própria culpa. Charcos, nuvens, praias, cruzamentos de estradas, todos os lugares por onde tínhamos passado, eram lugares para pedir desculpa por viver, pontos cardiais que indicavam rotas para sucumbir, abalando, desaparecendo, na fita da distância sem fim. Uma culpa repelente, a culpa maior que nós, sórdida como um suicídio lento, e no entanto, condescendendo comigo mesma, eu continuava a existir. Quinze anos. Esses anos faziam um pacto de silêncio com o quer que fosse, para existir"
Lídia Jorge, "O Vale da Paixão" (1998)
sábado, 13 de abril de 2013
José Mário Branco - "FMI"
Por vezes, sentimo-nos mesmo uma merda! O embrutecimento torna-me estúpido, talvez por isso procure, incessantemente, estímulos da mais diversa ordem, para me sentir como sou. A Arte transforma as pessoas! Torna-as mais bonitas! Venham para a Rua, por favor! Este Poder miserável não nos pode continuar a afundar. Segundo "eles", apenas estamos a meio caminho! Não deixem que cheguemos ao caminho todo, que levou à completa destruição da Grécia e nos vai levar à destruição de todos os direitos conquistados!
Ouvir este tema hoje, é absolutamente comovente! Eu tenho precisamente a idade que o Zé Mário dizia ter!
Ouçam com atenção. É uma obra-prima cada vez mais desconcertante!
beijos & abraços!
José Mário Branco - "FMI" (1982) |
Não podemos deixar que nos tirem tudo! |
José Mário Branco - "Linda Olinda"
Três belas sugestões, em forma de exposições, apresentadas pela Olinda e que eu subscrevo!
Tema do Zé Mário que pertence ao álbum "ser solidário" de 1982.
José Mário Branco - "ser solidário" (1982) |
"É impressionante a altura que um homem pode atingir apenas não descendo de nível"
Millôr Fernandes, "Pif-Paf", 2004
segunda-feira, 8 de abril de 2013
"Io la conoscevo bene"
Tenho o blog há 2 anos e tal, e pouco tenho escrito sobre Cinema. Assim devo continuar nos próximos tempos, mas parece-me que vou passar a publicar vídeos que contenham filmes completos que eu amo muito! O You Tube é uma espécie de magia da memória da qual cada vez gosto mais. Há uns dias lembrei-me de procurar por este "Io la conoscevo bene", esperando apenas encontrar o trailer, e nunca imaginando que o filme estava aqui disponível para ser (re)visto!
A incrível Adriana é interpretada por Stefania Sandrelli e vale a pena citar um testemunho dado por ela, 22 anos depois do filme ter sido realizado: "Antonio Pietrangeli é, de todos os realizadores com quem trabalhei, o mais sensível, o mais atento, o mais disponível ao sentimento íntimo feminino. (...) Para nós, Adriana era como uma filha, para mim era a minha pele, sobre a qual passavam os arrepios das desilusões, das humilhações, das situações trágico-cómicas da vida." A actriz considera mesmo a sua personagem neste filme como a mais importante de toda a sua carreira.
Desde o início deste blog, que tenho no meu perfil, a minha opinião sobre o Cinema Italiano dos anos 60. Para mim trata-se do melhor período de sempre da História do Cinema! E o meu espanto foi ainda maior quando me apercebi que existem mais obras que eu amo, deste período, disponíveis no You Tube. Certamente, publicarei apenas aquelas que se encontrem na versão original. Infelizmente, "La Ragazza con la Valigia" de Valerio Zurlini está dobrado em inglês... assim, por enquanto, fica de fora destas considerações.
Eu sei que não é a mesma coisa que assistir a um filme projectado numa sala de Cinema às escuras! Mas num país onde se fecham salas de Cinema em catadupa, e onde a oferta cultural, e cinéfila em particular, é cada vez mais do mesmo, assume por demais importância, este escape na forma como os filmes podem ser vistos e partilhados. Este capitalismo feroz que destrói a diversidade cultural, é o mesmo que permite milagres de Cinema partilhados por computadores de todo o Mundo! É uma esquizofrenia onde ainda se consegue respirar, apesar de tudo!
"Io la conoscevo bene" é um filme realizado por Antonio Pietrangeli em 1965. Vi-o na minha querida Cinemateca em 2004.
"Io la conoscevo bene" de A. Pietrangeli (1965) |
sábado, 30 de março de 2013
Decreto 77 - "Here's Your Freedom"
sexta-feira, 29 de março de 2013
Elis Regina - "Águas de Março"
Tema composto por Tom Jobim, aqui interpretado pela especialíssima Elis Regina, num video absolutamente delicioso! Música que faz parte do álbum de Elis de 1972. E que em 1974 virou dueto no registo "Elis & Tom".
E assim vos desejo Boa Páscoa!
Elis Regina - "elis" (1972) |
Elis Regina e Tom Jobim - "Elis & Tom" (1974) |
Capicua - "Medo do Medo"
Continuando na coelha que saquei da cartola nesta Páscoa, apresento-vos esta música já bastante conhecida, do seu álbum de 2012.
EU TENHO MUITOS MEDOS...
Capicua - "Capicua" (2012) |
O rato que tinha medo
(à maneira dos... marroquinos)
Um rato tinha medo de gato. Nisso não era diferente dos outros ratos. Pavor, tremor, ânsia, vida incerta. Mas, igual a todos os outros de sua espécie, o nosso rato teve, no entanto, um facto diferente em sua vida - encontrou-se com um mágico. Conversa vai, conversa vem, ele explicou ao mágico a sua sina e o seu pavor. O mágico então transformou-o exactamente naquilo que ele mais temia e achava mais poderoso sobre a terra - um gato. O rato, então, passou a perseguir os outros ratos mas adquiriu imediatamente um medo horrível de cães. E nisso também não era diferente de todos os outros gatos. A única diferença foi que tornou a se encontrar com o mágico. Falou-lhe então do novo medo e foi transformado outra vez na coisa que mais temia: cão. Cão, pôs-se logo a perseguir os gatos. Mas passou a temer animais maiores, como o leão, tigre, onça, boi, cavalo, tudo. Mágico vem e resolve transformá-lo, então, num leão, o mais poderoso dos animais. E o nosso ratinho, guindado assim à letra O da classe animal, passou então a recear quando ouvia passo de caçador. Então o mágico chegou, transformou-o de novo num rato e disse, alto e bom som:
Moral: - Meu filho, quem tem coração de rato não adianta ser leão.
Millôr Fernandes, "Pif-Paf", 2004
Capicua - "1º Dia"
Nós somos diferentes, mesmo! Existem pouquíssimas raparigas a ter sucesso nesta forma de expressão, mas em Portugal o melhor Hip Hop é feito por uma menina incrível da Invicta! Até eu que sou mais Rock and Roll, adoro o disco dela! Tema que faz parte do álbum "Capicua" de 2012.
Capicua - "Capicua" (2012) |
BECO
Não te enganes quando viras, na rua, e entras
numa direcção sem saída. Pé ante pé, como
se ninguém te visse, volta para trás e
regressa à esquina em que te enganaste.
Há quem o não faça, e continue até ao fim,
onde um muro de tijolo corta o horizonte:
não vê nada para o outro lado, e já não sabe
como voltar atrás e retomar o caminho.
A vida, nestas cidades de becos imprevisíveis,
pode oferecer surpresas como essa a quem
não vê por onde se mete; e obrigar-nos a parar
sem saber o que está para além do muro.
Nuno Júdice, "Meditação sobre ruínas", 1994
quarta-feira, 27 de março de 2013
Monika Versace
No passado dia 19 de Março, Monika Versace deixou-nos.
Através do Blog, tenho conhecido pessoas fascinantes, umas pessoalmente, outras apenas pela net, mas o que aprendi até aqui, nesta partilha diária, não seria possível de outra maneira.
Nunca conheci a Monika pessoalmente, mas eu era visita assídua do seu blog. A maior parte das vezes, ficava sem palavras ao olhar para aquele sorriso sempre presente. Que sorriso desconcertante, ao ler o que ela tinha para nos contar. Saía de lá sempre com uma força que não se explica. Num dos comentários que lhe fiz uma vez, disse-lhe que ela era a minha Heroína na blogosfera. (Heroína no sentido de Herói).
A Monika concedeu-me a honra da sua presença, aqui no meu blog, por diversas vezes. A última foi no dia 9 de Março, no post sobre João Rocha.
Este "Just Like Heaven" é para ti, linda!
Monika Punk! |
Monika Palhaça! |
Monika Penacho! |
Monika Devorada! |
Monika Mafaldeira como eu! |
Monika Malandra! |
Monika & os dois eternos companheiros de Luta! |
Fotografia de Monika! |
Deixo-vos com o link do Blog da Monika:
http://leucemialinfoblasticaaguda.blogspot.pt/
BESOS BESOS BESOS BESOS BESOS BESOS BESOS BESOS BESOS BESOS!
Sérgio Godinho - "O Primeiro Dia"
Caetano Veloso & Maria Gadú - "O Leãozinho"
Hoje, Bruno de Carvalho toma posse como Presidente do meu Sporting! Desta vez não tive tantas dúvidas como nas eleições de há dois anos atrás. José Couceiro e Carlos Severino não me inspiraram qualquer confiança. Já quanto ao Bruno, parece transportar uma réstia de esperança, que espero se possa transformar em algo mais palpável. Fiquei a saber nos últimos dias, que o Bruno tem um acentuado gosto cinéfilo. Assim, desejo que ele seja o realizador ideal neste filme épico de salvação leonina. Viva o Sporting!
Bruno de Carvalho |
Este tema de Caetano Veloso faz parte do álbum "Bicho" de 1977.
Neste vídeo está maravilhosamente acompanhado por Maria Gadú.
Caetano Veloso - "Bicho" (1977) |
terça-feira, 26 de março de 2013
Bebo Valdés (1918-2013)
O pianista cubano Bebo Valdés morreu no passado dia 22 de Março em Estocolmo. Neste vídeo que publico, podemos ouvir um pouco da magia e da técnica deste mago do piano (não são as "Lágrimas Negras" referidas no título...). A Revolução Cubana de 1959, a que ele não quis aderir, fez com que procurasse, nos anos seguintes, uma vida fora da Ilha Castrista. Não terá sido fácil, até porque durante três décadas viveu discretamente, tocando em bares de hotéis de Estocolmo. Voltou apenas a gravar já nos anos 90, por causa de Paquito D' Rivera. No princípio deste século, o realizador de Cinema Fernando Trueba resgatou-o finalmente para a ribalta da qual ele esteve afastado tanto tempo.
O sítio para onde Bebo Valdés terá ido agora, certamente terá um piano à sua espera, para que a magia do som resultante dos dedos que dançam, já não esteja dependente de desvirtuadas políticas que excluem, determinadas ondas sonoras, por razões muito pouco musicais. Como sabem, sou de Esquerda, mas isso nunca me impediu de ter uma visão crítica em relação a tudo o que se passa à minha volta. E nestas questões de inclusões e exclusões, tenho sempre algo a dizer.
The Strokes - "All The Time"
Hoje é dia especial! Um dos meus grupos preferidos preferidos preferidos, edita hoje o novo álbum "Comedown Machine". Para aperitivo já há "All The Time" com vídeo ainda quentinho.
Eu vi os Strokes nas duas vezes que cá vieram! Vi-os em 2006 e vi-os em 2011. Vejam lá rapazes se aparecem por cá este ano!
The Strokes - "All The Time" (single) (2013) |
The Strokes - "Comedown Machine" (2013) |
The Dead Pirates - "Wood"
Ainda esticando a lógica literária que me levou a publicar excertos de Luis Sepúlveda e Gabriel García Márquez, refiro que, por cá, há uma escritora que eu encaixo na mesma família estilística. Se não me falha a memória, dela apenas li o fantástico "Insânia" de 1996. Falo, evidentemente, de Hélia Correia. Lembro-me de a ver, por vezes, nas salas de Teatro onde eu também ia, quando ainda assistia a essa Arte sublime. Que saudades tenho eu de ir ao Teatro, meu Deus! É melhor não pensar nisso, agora...
Este tema dos Dead Pirates pertence ao EP "Malevolent Melody" de 2010.
O vídeo é autoria de Mcbess & Simon.
The Dead Pirates - "Malevolent Melody" (EP) (2010) |
"Jamais se abriu Talívio sobre o assunto. Pusera o seu empenho nas palavras e, atraiçoado, foi para as mãos que se virou. Achou refúgio num lagar que transformou numa oficina de carpintaria. E aplicou-se a lutar com a madeira, que, ao contrário de tudo o resto, era abundante, ainda que lassa e muito esquiva às ferramentas.
Na solidão moía os seus despeitos. Quem espreitasse, veria como a fúria dos pensamentos lhe escorria até aos dedos. Dizia-se que o vento, voltejando nas telhas descobertas, levantava o poder dos espíritos do vinho que, muitos anos antes, outro vento impregnara na própria construção. O carpinteiro não gostava de álcool, mas a intoxicação por ideais parecia semelhante à da bebida. Também ele começara por falar alto em público para depois, humilhado, se esconder."
Hélia Correia, "Insânia", 1996
segunda-feira, 25 de março de 2013
The Clash - "Straight to Hell"
M.I.A. - "Paper Planes"
Vídeo realizado por Bernard Gourley.
Tema que faz parte do álbum "Kala" de 2007.
O excerto de Gabriel García Márquez que publico neste post, fez-me lembrar este tema delicioso de M.I.A.!
M.I.A. - "Paper Planes" (single) (2007) |
M.I.A. - "Kala" (2007) |
"Uma droga mais daninha do que as chamadas 'duras' introduziu-se na cultura nacional: o dinheiro fácil. Prosperou a ideia de que a lei é o maior obstáculo para a felicidade, que de nada serve aprender a ler e a escrever, que se vive melhor e mais seguro como delinquente do que como gente de bem. Em síntese: o estado de perversão social próprio de toda a guerra larvar."
Gabriel García Márquez, "Notícia de um sequestro", 1996
domingo, 24 de março de 2013
Steppenwolf - "Magic Carpet Ride"
Como referi o chileno Luis Sepúlveda nos posts anteriores, apetece-me transcrever excertos de um escritor que considero da mesma família literária. O colombiano Gabriel García Márquez fascinou-me por completo com o seu "Cem Anos de Solidão". Trata-se de uma das obras mais mágicas que li ao longo da minha vida de leitor. É um dos livros mais influentes da História da Literatura, e tal como Sepúlveda me faz lembrar um pouco García Márquez, existem um cem número de escritores que parecem ter ido beber à magia do colombiano.
Por causa do excerto que publico neste post, lembrei-me desta música dos Steppenwolf. Faz parte do álbum " The Second" de 1968.
Steppenwolf - "The Second" (1968) |
"Úrsula tinha acabado de cumprir o seu repouso de quarenta dias quando chegaram os ciganos. Eram os mesmos saltimbancos e malabaristas que haviam trazido o gelo. Ao contrário da tribo de Mequíades, tinham demonstrado em pouco tempo que não eram arautos do progresso mas bufarinheiros de diversões. Mesmo quando trouxeram o gelo, não o anunciaram em função da sua utilidade para a vida dos homens mas como uma mera curiosidade de circo. Desta vez, entre muitos outros jogos de artifícios, traziam um tapete voador. Mas não o ofereceram como uma contribuição fundamental para o desenvolvimento do transporte, mas como um objecto de divertimento. Claro está que as pessoas desenterraram os seus últimos pedacinhos de ouro para usufruírem dum voo fugaz sobre as casas da aldeia. Amparados pela deliciosa impunidade da desordem colectiva, José Arcadio e Pilar viveram horas de desafogo. Foram dois namorados felizes entre a multidão, e chegaram até a suspeitar que o amor podia ser um sentimento mais repousado e profundo que a felicidade desaforada, mas momentânea, das suas noites secretas."
Gabriel García Márquez, "Cem Anos de Solidão", 1967
terça-feira, 19 de março de 2013
Kris Kristofferson - "Sandinista"
Como publiquei no post anterior um texto de Luis Sepúlveda acerca do Papa Francisco, convém referir que os livros que li deste autor, me marcaram. Por exemplo em "Nome de Toureiro", é evidente a influência da sua própria vida, em tudo o que ele descreve. Ele pertenceu à Brigada Simon Bolívar, que lutou ao lado dos Sandinistas na Nicarágua. Essa Brigada é parte integrante da história fascinante de "Nome de Toureiro". Já escrevi sobre os Sandinistas num post antigo com música dos Censurados... Por isso não me vou repetir.
Dedico este tema de Kris Kristofferson a Luis Sepúlveda, porque ele me proporciona um universo literário mais rico e muito original. Tema que faz parte do álbum "Third World Warrior" de 1990.
Kris Kristofferson - "Third World Warrior" (1990) |
"O velho Franz levou uns bons anos a quebrar a resistência da viúva e quando, por fim, numa curta noite de Verão, conseguiu ser aceite entre os seus lençóis, descobriram os dois que as suas vidas estavam excessivamente impregnadas de recordações que obrigam ao silêncio e que a única coisa que podiam fazer juntos era tentar construir recordações novas, limpas da infecção da distância e que, quando se conseguem, oferecem o mais cálido dos amparos. Como isso leva tempo, decidiram-se por uma relação entre gringo sozinho e governanta a viver fora, o que a mulher legitimava tratando-o invariavelmente por senhor."
Luis Sepúlveda, "Nome de Toureiro", 1994.
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"O Rosário, de Florence Barclay, continha amor, amor por todos os lados. As personagens sofriam e misturavam a sorte com os sofrimentos de uma maneira tão bela que se lhe embaciava a lupa de lágrimas.
A professora, não de todo de acordo com as suas preferências de leitor, permitiu-lhe que levasse o livro, e com ele regressou a El Idilio para o ler mil e uma vezes diante da janela, tal como se dispunha agora a fazer com os romances que o dentista lhe trouxera, livros que esperavam insinuantes e horizontais em cima da mesa alta, alheios à desordenada olhadela a um passado em que António José Bolívar Proaño preferia não pensar, deixando os poços da memória abertos, para os encher com as venturas e os tormentos de amores mais prolongados que o tempo."
Luis Sepúlveda, "O Velho que Lia Romances de Amor", 1989.
Rita Lee - "Reza"
Em continuação do post anterior, publicarei o texto prometido. Foi escrito por Luis Sepúlveda, um escritor que admiro e do qual li páginas que nunca mais me sairão da cabeça. Ao contrário dele, não sou ateu. Tenho Fé mas nunca tive Religião, e não vejo nenhum problema nisso!
Fiquem então com o texto de Luis Sepúlveda.
Jorge Mario Bergoglio, ou o padre que dava a comunhão a Videla
Tinha prometido a mim mesmo que não dedicaria nem um minuto à eleição do novo papa. Não sou católico, sou orgulhosamente ateu, e ao longo da minha vida tenho conhecido e conheço alguns padres que muito pouco têm a ver com O Vaticano & Company. Um deles chamou-se Gaspar García Laviana, um padre asturiano que pegou em armas na Nicarágua, deu a sua vida pelos pobres e caiu combatendo, com o posto de Comandante Guerrilheiro. Gaspar – Comandante Martín na história dos oprimidos – foi dos padres consequentes com o cristianismo, mas com um cristianismo que não está, que nunca esteve no Vaticano.
Tinha prometido a mim mesmo não dedicar nem um minuto ao assunto fuamata nera ou fumata bianca, o único fumo de que gosto e interessa é o dos Cohibas que fumo, mas diante da avalanche de histeria desencadeada é impossível permanecer indiferente. Para muitos, só o facto de o novo papa ser latino-americano já é uma garantia do regresso iminente aos evangelhos na sua expressão mais pura. Não é assim. A história sinistra da igreja católica, sobretudo a recente, não vai ser limpa por uma nacionalidade determinada. E se a questão era eleger um latino-americano, por que não Leo Messi, que é o mais próximo da perfeição divina?
Para outros, o facto de o novo papa "Pancho I" ser hispano-falante é quase um sinal de que a nossa língua é a língua dos anjos, que basta que fale espanhol para que a esquecida mensagem de justiça que teoricamente pronunciou o Nazareno se imponha em todas as bocas da Terra. Por favor! Diriam o mesmo se o novo papa fosse Rouco Varela ou qualquer outro taliban nacional católico e fascista da conferência episcopal espanhola?
E para outros, o facto de "Pancho I" ser jesuíta é quase um sinónimo do afastamento dos legionários de cristo, da Opus Dei, dos inquisidores da escola de Ratzinger. Ao que parece, com "Pancho I" a igreja recupera a inteligência e a sensibilidade de alguns, não de todos, os jesuítas.
Não devemos esquecer que há jesuítas e jesuítas. Admiro e respeito a memória de um jesuíta como Ignacio Ellacuría, assassinado em El Salvador, um padre que se arriscou, tal como fizera Gaspar García Laviana na Nicarágua, que deu a vida pelos pobres, pelos camponeses, pelos índios, pelos oprimidos, mas temo que Jorge Mario Bergoglio – "Pancho I" doravante – não é feito da mesma massa.
É público que jamais condenou ditadores argentinos, apesar de saber que na Argentina de Videla e dos seus sequazes se torturava, se assassinava, faziam-se desaparecer milhares de pessoas, roubavam-se os recém nascidos das prisioneiras grávidas, violavam-se todos os direitos e todos os mandamentos que, supostamente, regem a moral e a conduta dos católicos. Videla era católico e dos fanáticos, tal como Massera e todos os criminosos que usurparam o poder na Argentina. E sabendo-o, Jorge Mario Bergoglio – "Pancho I" doravante – não abriu a boca. Não pode alegar que não sabia, porque era o confessor e era quem dava a comunhão a Videla. Que lhe confessava o chefe dos torturadores?
Segundo uma extraordinária reportagem do jornalista argentino Horacio Verbitsky, publicada no Página12 em 1999, o cardeal Jorge Mario Bergoglio – "Pancho I" doravante – é culpado, por acção ou omissão, da detenção e desaparecimento de dois religiosos da sua própria ordem.
Nunca esclareceu estes factos, mas, curiosamente, quando o presidente Néstor Kirchner acabou com as odiosas leis de “obediência devida", com as amnistias aos criminosos e reabriu os julgamentos contra os piores criminosos da história argentina, Jorge Mario Bergoglio – "Pancho I" doravante – descobriu a pobreza e converteu-se no paladino do antikirchnerismo.
Na reportagem publicada pelo Página12, Horacio Verbitsky mostra dois documentos: um, que implica directamente Jorge Mario Bergoglio – "Pancho I" doravante – no desaparecimento desses dois padres, e outro, adulterado, modificado, amanhado, talvez pela mão do Espírito Santo.
Não há nada de que se alegrar. O conselho geral de accionistas do Vaticano & Company deixou tudo tal como estava.
Luis Sepúlveda, 13 de Março de 2013.
Tradução de Luís Leiria.
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Cartoon de Carlos Latuff |
Luísa Sobral - "Xico"
Como toda a gente já deve ter reparado, há Papa novo no Vaticano. O nome artístico é Francisco. Sucede a Bento XVI, um Papa em que toda a gente bateu, menos eu... Vi neste Bento, em pouco tempo de pontificado, uma certa tendência para assumir temas delicados, sempre postos à margem por quem se sentou na Cadeira de Pedro. Apesar de eu ter Fé, nunca tive Religião, e acho mesmo que não necessito de nenhuma, para poder continuar a ter a imensa Fé que tenho. Acredito em algo, é verdade, acredito que existe algo para além disto! Caramba, não há-de ser só esta vidinha estúpida que nós temos! Como sou de esquerda, já houve várias pessoas que me perguntaram se o ópio do povo de que Marx falava já não interessava. Se há uns anos atrás ainda suportava a questão que me colocavam, hoje em dia, quando me fazem essa pergunta, costumo sentir uma certa falta de ar desconfortável. Já não tenho pachorra para explicar, que cada pessoa deve pensar pela sua própria cabeça, e não ser apegada a interpretações doutrinárias tão puritanas! Devo ser o único espécime à face da Terra que simpatiza mais com Bento XVI, do que com João Paulo II. Aliás, nunca nutri qualquer simpatia ou respeito por João Paulo II (sempre o considerei um Papa medieval). Mas vejo-me a ler os livros de Ratzinger, um dia destes...
O delicioso "Xico" de Luísa Sobral é ilustrado por um vídeo um tanto ou quanto sombrio. Assim, no próximo post publicarei um texto sobre o Papa Francisco, escrito por alguém que eu admiro muito! E acreditem que o lado negro do vídeo tem bastante a ver com o texto que publicarei.
Tema que faz parte do álbum "The cherry on my cake" de 2011.
Luísa Sobral - "The cherry on my cake" (2011) |
Cartoon de Henrique Monteiro |
Bartoon de Luís Afonso no Jornal Público de 13-03-2013 |
Bartoon de Luís Afonso no Jornal Público de 14-03-2013 |
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